domingo, 14 de dezembro de 2008

O galinha paradoxal

Leiam Malu de Bicicleta, de Marcelo Rubens Paiva. (E se me permitem o pitaco, ouvindo o último CD do Maroon 5 - It Won't Be Soon Before Long. Não há trilha sonora melhor, pelo menos pra mim)

O começo da história lhe faz ter dó de Luiz. O meio, nojo de sua canalhice, graça de sua cara de pau, inveja de sua despreocupação anterior à Malu, riso por suas aventuras, inconformidade com sua galinhagem, compaixão por seu amor encontrado. Mas no fim... Primeiro um desalento solidário, depois uma raiva repentina e por fim... pena por sua burrice.
Só tome cuidado para não desacreditar (muito) do amor. :)

domingo, 9 de novembro de 2008

Musicando

Eu tenho uma mania estranha de associar músicas com livros e fatos. Normalmente escolho um playlist para ouvir por duas, três semanas; ou então a seleção de músicas dura até o fim daquela história. Depois mudo de livro e de musiquinhas também.
Sim, sou metódica e cheia de rituais estranhos.
Mas essa esquisitice tem um porquê: é muito bom ouvir determinada música e associá-la com determinado enredo, determinado capítulo. Ouvir Girando na Renda, da Roberta Sá, e lembrar dos encontros amorosos escondidos de Júlia e Winston, de 1984. Superstar, Sonic Youth, como trilha sonora do conto de Woody Allen sobre a anã platonicamente apaixonada pelo homem branco e alto, de Fora de Órbita. Sea of Love (Cat Power) junto com Retrato em Preto e Branco (Chico querido) e as conflitantes relações amorosas de A Insustentável Leveza do Ser. Combinada com os conflitos de Vírginia da obra-prima de Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra, Ela É, da banda pouco conhecida chamada Validuaté. Ou então, Você Vai Ver, do meu adorado João Gilberto. Maria Rita cantando Menininha do Portão: ligação direta com Clarissa, criada por Érico Veríssimo.
Killing Lies, dos Strokes, me faz lembrar do ponto de ônibus depois de aulas maçantes no cursinho, com direito a flertes - nada fatais, ficadica. Jack Johnson e sua Do You Remember acompanhando a curtíssima caminhada até a escola onde fazia o ensino médio - e onde passei todo o tempo contando os dias para a fuga de um lugar hostil. A bobinha Lovefool - The Cardigans - e duas retardadas dançando na sala de aula. Copacabana - Móveis Coloniais de Acaju - e o começo do namoro. Da Marisa Monte, Bem Leve, para a lembrança de uma menina de 10 anos dançando de vestido de bolinhas na sala depois do jantar, durante o horário eleitoral. Paquetá, dos saudosos Los Hermanos, e a belíssima Ilhabela. Lily Allen e sua LDN num dia que deu vontade de descer 10 pontos antes e ir andando numa tarde bem agradável. Oil and Water (Incubus) e a fuga de 3 trombadinhas no meio da rua para não ser assaltada. De Vanguart, Hey Yo Silver, e uma Winnie ligeiramente bêbada no Studio SP. Love Will Tear us Apart, do Joy Division e a semana depois do diagnóstico. Cansei de Ser Sexy e Superafim com amigos sem noção. Foo Fighters e sua All my Life: recordação da 8ª série tão boa, não sei bem por que.
Enumerar todas as canções e os livros, acontecimentos, fases a que estão ligados despenderia muito tempo. Só vou recomendar que experimentem a técnica de associação. As histórias e os personagens num dia ou outro ressurgirão provocados por uma melodia. E a vida terá sempre uma trilha sonora particular.

Esse post também teve a sua. :)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O que ainda resta de irracionalidade...

Naquele corpo vagueia uma vontade, um desejo reprimido pela moral e pela vergonha. Mas é um corpo tão cansado, tão abatido, que clama desesperadamente por um descanço.
A vontade vem às vezes no sonho. O acontecimento se faz real nos lençóis da inconsciência noturna e aquele corpo acorda triste, enojado consigo mesmo. Quer lavar-se da sujeira de seus pensamentos, quer ficar desperto para não reviver a cena criada em sua mente.
E o dia corre. Correm também as idéias, essas crianças endiabradas, sem educação e impossíveis de controlar; na melhor analogia até aqui encontrada. E elas remontam o sonho, na hora de comer, na hora de andar, em qualquer hora que esteja associada a viver.
O corpo deixa de ser corpo, essa reunião de células agitadas e inconstantes. Passa a ser mente, e só. E então o desejo domina, superior ao que a fé e a essência de certo-errado estabelecem.
Nesses instantes, homens tornam-se egoístas, querem o fim de situações insuportáveis, anseiam por mudanças que melhorem suas vidas, seja como for.
Talvez seja nessas horas que homens roubem, agridam, matem.
A maioria, ainda bem, se envergonha e se desvencilha das amarras dos desejos ignóbeis.

domingo, 12 de outubro de 2008

Adolescência

"Chora as lágrimas vindas do âmago.
Molha a face infanto-juvenil do ser
que se agiganta.
Emoções desencontradas,
sentimentos confusos.
O retiro ao canto solitário, na
busca de si mesma.
Vulcão ardente no peito soluçante, expele
a lava da inconstância.
O calor das sensações inexplicáveis
para a pouca idade.
Situação passageira que confunde e se explica.
Busca urgente o compartilhar,
enquanto sozinha, não consegue entender.
Desafoga então o seio palpitante, para
não deixar estanque."

Do pai pra mim.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Não existe, mas incomoda

Um peso que provoca sensação de vazio. Uma dúvida permeia, o instante não volta, a impotência domina... Tantas razões, mas nenhum porquê.
Alguma coisa reprimida, calada, infeliz que cresce por brotamento ou bipartição. Não vai explodir, não vai se romper. Vai corroer.
E depois fugir. Porque as coisas que começam sem sentido sempre acabam sem explicação.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

As palavras para quem sabe realmente usá-las

"(...)Como todo homem, sou meu próprio pior inimigo. Ao contrário da maioria dos homens, porém, sei também que sou meu próprio salvador. Sei que liberdade significa responsabilidade. Sei igualmente com que facilidade o desejo pode ser convertido em ação. Ainda quando fecho os olhos, devo tomar cuidado com meus sonhos e o seu tema, pois agora apenas o mais fino véu separa o sonho da realidade."

Tirado de O Mundo do Sexo, Henry Miller.

sábado, 13 de setembro de 2008

Sonhos ou devaneios?

Ele sempre calado, conformado, sem se queixar, naquela vida simples de poucas ambições. Pouquíssimas. Mas um dia lhe veio uma vontade de sair por aí, conhecer gente nova, andar sem destino. Até porque a liberdade sempre o encantou.
E saiu do aconchego e da segurança de seu lar. Aproveitou a melhor oportunidade para armar-se de coragem e ultrapassar os portões da vigilância alheia. Primeira coisa que fez? Respirar o ar puro do mundo sem grades, portões e muros. A rua estava ali, com todo seu movimento, sua intensidade, sua inconstância e sua impessoalidade. Ele sabia que haviam regras, leis, normas de convivência mesmo ali na calçada ou no asfalto desgastado. Mas pouco importava.
Ele poderia caminhar por horas sem dar conta de seu rumo a ninguém. Comeria restos ou pratos requintados, dormiria onde quisesse na hora que melhor lhe apetecesse, faria amigos bons e ruins, confrontaria os inimigos que surgissem...
Ah, tantos planos e ele ali ainda parado! Inspirou profundamente e correu. Para a felicidade.
E ela veio iluminada pelo farol do ônibus, que lhe deu asas por instantes para jogá-lo num precipício de idéias e sonhos, onde ele enxergava cores, cheiros, rostos, desejos e todos os seus planos ali misturados de modo confuso e mágico. Caiu enfim com brusquidão no chão cinzento de listras amarelas e ainda pôde prever seu futuro tão maravilhoso.
Fechou os olhos, então. Mais um cachorro morria nas ruas de São Paulo.




[Tributo ao finado King! ^^]

domingo, 7 de setembro de 2008

Da amizade que já é, mas que virá.

As duas se aproximam como imãs, com palavras recatadas que se acumulam na boca - tão prontas para o mundo e para o ouvido alheio ali ao lado. As mesmas músicas tocam em seus respectivos fones de ouvido, os mesmos livros ocupam as mesinhas de seus quartos, os mesmos lugares e eventos recebem suas presenças... E ainda, no entanto, há um muro entre elas, como o de Berlim.
Se encontram, trocam sorrisos. Andam na rua juntas por um acaso da vida, conversam de coisas aleatórias, com idéias e opiniões que se encontram numa grande intersecção de pensamentos. E a afinidade pulsa, reclama liberdade e intercâmbio. Mas elas continuam tensas, recolhidas mentalmente num duelo de entrega e repulsa.
Intercalam entre si momentos de ansiedade por essa aproximação. Outras vezes de receio ou de antipatia. Um misto de sentimentos que só amigos têm.
É, amigas. Porque elas são isso, nada mais que isso. Só lhes falta a oportunidade de deixar fluir plenamente a afinidade que faz sombra entre elas quando caminham lado a lado, num silêncio confidente.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Quase biográfico

Na mesinha do lado da cama repousa Clarissa, um livro alaranjado de pequena espessura feito, porém, de páginas delicadamente escritas para encantar o leitor. Da narrativa simples surge uma vontade imensa de resgastar a personagem pra fora do papel e lhe contar os mistérios da vida que tanto lhe causam curiosidade.
Por quê? Ora, basta lembrar de si com os mesmos anos. Menos ingênua - claro, mas com a mesma mania de absorver do mundo todos os segredos, as confissões, as explicações, as razões, os desejos... Sentir, guardar dentro de si e criar um quebra-cabeça da vida.
Tudo é tão novo, espetacular e instigante! E a cada descoberta incipiente um sentimento de superioridade submissa, afinal ainda há de vir outra revelação. É como mergulhar na onda forte e esperar a próxima, confiante por ter ultrapassado a primeira.
O engraçado é que dizem: "Criança é que é feliz. Tudo é festa, veja só!". Mas o mundo não pára, o novo não deixa de surgir, os mistérios tornam a se multiplicar.
Não se aborreça, Clarissa. Haverá sempre o que descobrir. Até porque o inexplicável de um dia para o outro se transforma na mais compreensível das coisas, e é assim desde sempre.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pingos.

Água.
Para matar a sede. Um pouco no rosto, pela manhã, para acordar de vez. Alguns litros para lavar a alma, naqueles dias tensos. Com sal dizem que espanta coisa ruim. Com açúcar já acalma. Tem da benta, que só funciona com quem acredita. Gelada em dias particularmente tropicais; borbulhando e pronta para um chá ou café nos mais frios. No fogo para cozinhar, evaporar e deixar tudo pronto para o estômago faminto. A pia, a louça, o carro, a casa: higiene e cara nova. Uma ducha quente depois de um dia longo. Banho de mangueira quando se é criança - ou não. No regador, para alegria do jardim. Salgada e com ondas, uma delícia. Com cloro para quem gosta de esquecer da vida em algumas chegadas. Algumas carregadas pela correnteza, cheias de vida.
Mas a melhor? Aquela que condensa no céu e cai inesperadamente, arrancando reclamações de uns e risos de outros.
É, eu adoro banho de chuva.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ficar são...

Ele conversa no quarto ao lado, derramando conselhos e lágrimas alheias. Sentada no sofá, intercalando sua atenção entre a tv e o outro cômodo, ela absorve cada palavra dita e subentendida.
Ela já não se pergunta por que isso está acontecendo ou por qual motivo, entre tanta gente no mundo, ele foi um escolhido. A questão da vez é como, nessa situação, ainda há sabedoria, um mínimo de paz e coisas bonitas a serem ditas.
"De onde vem a calma daquele cara?" um dia perguntou Camelão e seus companheiros. E hoje eu divido essa dúvida. Me coloco em seu lugar, tentando - em vão - imaginar como reagiria ao desmoronar da vida. Da minha vida, no sentido mais literal possível. O resultado desse questionamento me mostra o quanto ele é forte, digno, especial. E então me deparo com um misto de orgulho e dor. Não sei se preferia a covardia que o deixaria pra sempre comigo ou se é melhor provar desta idolatria penosa. Não sei.

E talvez você, que nem (gosta) conhece de Los Hermanos, cante por dentro: "O mal vai ter fim/E no final, assim calado/Eu sei que vou ser coroado rei de mim."

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Título? No, tks.

O sol batia no rosto, mergulhando no quarto pela fresta da janela. Era bem tarde, mas pra quê acordar? Ali, debaixo das cobertas, o mundo é só a gente e os nossos pensamentos. Só que a obrigação desperta e te joga pra fora da cama, sem cerimônia. Já começa mal.
Quando é assim parece que o mundo decide notar-lhe ou surgir para você. Alguém sempre aparece e você é obrigada a forçar um sorriso falso. Regra da boa convivência, eu te odeio nesses dias.
Então, arruma-se e parte pra rua. Sol causticante, ônibus cheio, trânsito, motorista que pára à 15 km do seu ponto, vendedores ambulantes ocupando toda a calçada, tias com bolsas e sacolas paradas olhando pro nada e atrapalhando sua passagem, correria pra chegar no horário, aula legal mas monótona, gente demais pro meu gosto em todos os cantos, falatório e gritaria, aula monótona - parte 2, voltar cansada, ônibus lotado com retardados que te obrigam a descer e pegar outro, outra condução abarrotada, trânsito, motorista barbeiro, gente parada na porta para atrapalhar quando você vai descer, sinal que não fica verde, motorista que quase te atropela, vizinha puxando assunto, pessoas demais, perguntas demais, silêncio de menos.
Um dia típico de TPM, força máxima.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Conjugando.

Acordar. Colher. Aprender. Suportar. Descansar. Fingir. Comer. Conversar. Hidratar. Defecar. Sorrir. Cantar. Ouvir. Discutir. Inovar. Dormir. Relacionar. Guardar. Descobrir. Lavar. Correr. Olhar. Criar. Incendiar. Procriar. Unir. Morar. Evoluir. Formar.

Ele listava os verbos, ao acaso. Eis que na lista surgiu aquele: o ousado usar. Não veio com manual de instruções nem restrições, o que lhe tornou muito mais atraente.
E ele o apanhou com as mãos, guardou com cuidado e preparou-se para saborear de seus privilégios. Esperou pouco por isso, eis o problema. Despreparado e imaturo, mergulhou nos mares furtivos do verbo, sem leis ou moral.
E daí em diante, ele - o mundo - sofre com gente que usa de autoridade, conhecimento, riqueza, miséria, esperteza, luxúria e poder à favor de seus míseros e egocêntricos interesses.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

E da muralha caiu uma pedra.

Querendo ser rígida, forte, superior a todas as tempestades, sobrevivente de todas as catástrofes. Mas peca por ser real, por sentir e por viver. Não há fortaleza capaz de barrar o inevitável, de controlar o tempo e o destino - coisas tão independentes à sua vontade e invencíveis na luta vã que decretara.
Eis que um dia o vento e a chuva vencem. Sua rigidez e imponência se esvaem nas partículas do ar e uma gota - que nasce dela - escorre por entre seus frisos, umedecendo-a por dentro. A estrutura supostamente tão forte é desmascarada; o interior corroído e abalado aflora, publicando a verdade escondida. Ou não.
Enfim, cai uma pedra: aquela que sustenta toda a construção. Os que olham apenas esperam, temerosos ou solidários, a derrocada final. E ela será um recomeço, nada mais que um recomeço.

sábado, 12 de julho de 2008

Por quê?

- Mãe, por que as árvores são tão grandes?
- Porque elas comem bastante. É o que você devia fazer pra crescer também.
- Mãe... Quero saber essas coisas sérias que passam naquele canal chato cheio de animal e com aquele moço que tem voz de filme.
- Tá bom, tá bom! Olha, elas primeiro são sementes bem pequenas, que fi...
- Ah, semente não! Você também ficou falando essas mentirinhas quando eu perguntei como eu tinha nascido e depois a tia Lúcia falou que você e o papai tinham feito coisinhas!
- Mas as sementes da árvore existem mesmo, filha. A vovó compra um monte delas pra plantar no jardim dos fundos. Elas são bem pequenininhas, do tamanho de um feijãozinho.
- Huum, e de onde vem a folhinha?
- Pois então: a semente vai crescendo lá debaixo da terra, começa a criar galhinhos, depois vem as folhinhas... Passados muuuuitos anos, ela vira essa árvore enorme aqui.
- Que legal! Eu podia ficar grandona igual uma árvore, né mãe?
- Aí você não caberia nas roupas, nem na cama, nem em casa. Pessoas não podem crescer tanto, querida.
- Por isso o papai morreu? Por que ele era grandão?
- Não, filha. Papai não era grande como uma árvore. Ele só era um homem alto.
- E por que o papai do céu levou ele?
- Porque ele tinha feito um acordo com o seu pai e os dois haviam decidido que aquela seria a hora dele se juntar aos amiguinhos de lá.
- E por que o papai não combinou outra hora com ele? Por que ele não esperou eu sair da sua barriga?
- Isso só o seu papai e o do céu sabem responder, mas provavelmente foi a melhor escolha. Sabe aquelas conversas que você tem à noite com ele, antes de dormir?
- Aham.
- Pergunta nessa hora. Hoje, por exemplo, você pode fazer isso.
- Mas Deus não me responde, mãe. Ele só ouve e me protege...
- Ele não vai te responder na hora, mas um dia responderá.
- Papai do céu não sabe que pergunta de criança tem que ser respondida na hora?

Um silêncio, uma piscada, uma risada inocente e um abraço para terminar o passeio no fim de tarde primaveril.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Happy Beatles Day!



Pra comemorar ouvindo: If I Fell


[Tentei upar o vídeo, mas o blogger ficou de frescura! E obrigada pelas recomendações do post anterior! Perguntinha: quem é a de férias? :P]

sábado, 5 de julho de 2008

Procura-se.

Tô caçando um livro interessante na estante aqui de casa, mas nenhum me agradou até agora. E olha que as opções são muitas. E boas.

Alguém me indica alguma coisa? :D



[Queria mesmo uma viagem... Uns 5 dias só pra mim - ou não, ficadica - seriam maravilhosamente reconfortantes, física e psicologicamente falando.]

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Quatro amigas sentadas na escadaria suja, cada qual com seu afazer e preocupação.
A mais alta, no primeiro degrau, segura três livros sobre Trovadorismo e faz palavras-cruzadas. Seu sonho é escrever uma dessas cantigas de amigo, para poder desabafar sobre aquele que lhe elogiou a inteligência, a simpatia e a boca carnuda, mas que há duas semanas depois do jantar na casa dela sumiu. Ela não quer declarações apaixonadas, pedidos de desculpas acompanhados de flores e beijos ardentes ou qualquer coisa do gênero. Apenas um "oi" via e-mail ou uma sms com 10 caracteres já vale como o mínimo de respeito pelos tantos elogios outrora feitos e pela noite tão boa daquele dia.
Atrás da mais alta está a compenetrada oriental dos olhos verdes ajustando a câmera digital. É daquelas mulheres de fibra, de parar o trânsito e deixar marmanjos de queixo caído. Até quem não gosta de olhos puxados admite-se encantado por ela. Bom, menos ele, que preferiu trocá-la por uma garrafa de uísque e vários quilos de cocaína. Enfim, escolhas... Por um tempo ela chorou, mas sabe? A vida continua e homem tem de sobra. Logicamente, porém, nada disso mudará o fato de que durante 5 anos os dois partilharam da mesma cama e da mesma vida.
A baixinha - a mais falante e com mais história para contar - tenta organizar as coisas na mala, o que não deixa de ser uma atitude improdutiva. Ora, ela nem ao menos consegue organizar as idéias na cabeça, quanto mais seus pertences pessoais. Mas é disso que ela gosta: bagunça, desordem e tudo que há de desajustado no mundo! Conheceu um cara na formatura da prima ontem e já se diz loucamente apaixonada por ele, só que não quer desistir do affair com o marido da vizinha, afinal seu lema é "aventura representa a essência de viver!". As outras não apóiam, mas ela ignora as críticas e alega que se todo mundo fizesse o que dá vontade a felicidade não seria substantivo abstrato.
Por fim, a de óculos e cabelos chanel. No momento, lê uma matéria sobre intervenção urbana. Ela narra em voz alta as partes mais interessantes e tenta explicar para as demais o conceito da coisa. Em vão - quem ainda ouve não entende, não gosta ou não acha legal. Ela desiste e começa a lembrar do último sujeito com quem saiu - gostava dessas coisas. Mas ela enjoou, como sempre acontece. Não é sua culpa, os homens que se tornam repetitivos a partir da 25ª semana de relacionamento. Teoria de socióloga formada, ninguém discute.
No banco em frente pousa um casal de andorinhas. Tão mais simples a relação macho-fêmea entre os pássaros, não?






[Off: O sumiço foi por causa do fim de semestre. o/]

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Visita indesejada

Ela chegou cautelosamente silenciosa. Mostrou-me sua bagagem desagradável e logo depois esclareceu que era tudo mercadoria sem valor.
Pareceu ir embora, contudo dias depois ressurgiu. Mais viva, mais preparada. Riu de um jeito sarcástico, com olhar de prepotência e falsa piedade.
Piscou e elaborou um discurso minuciosamente preparado e objetivo, que me deixou suscetível e desarmada. Conseguiu de mim o que queria, fez de mim sua freguesa e vítima.
Odeio sua presença, senhora Insegurança.

domingo, 25 de maio de 2008

O post vai ser musical. Não por preguiça ou falta de criatividade, mas é que o Amarante escreve bem melhor que eu! E sim, eu serei clichê!
Nota: muda tudo pro eu-lírico feminino. 3ª pessoa e vocativo para o masculino, consequentemente! :D

Eu encontrei-a quando não quis
mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei-a e quis duvidar
Tanto clichê deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver eu penso em trocar
a minha TV num jeito de te levar
a qualquer lugar que você queira
e ir onde o vento for, que pra nós dois
sair de casa já é se aventurar

Ah vai, me diz o que é o sossego
que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

Taí a verdade.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A vontade de ser pluma

Estou apaixonada por Milan Kundera e seu A Insustentável Leveza do Ser. Li só a metade do livro, mas me sinto tão seduzida por cada linha, por cada palavra ali escrita que já o defini como uma obra literária para se ter na cabeceira da cama por toda a vida.
Acho que a sedução que o livro exerce sobre mim pode ser explicada por algo bem simples - Milan escreve sobre o que eu sonho em ser: leve.
Eu sou a pessoa presa à razão, à ponderação, à parcimônia, ao pavor do impulso, ao pensar exagerado, ao medo de arriscar... Não sei abdicar do peso, seja ele qual for e independente do quanto me sufoque. Tenho receio da crítica, da censura, do erro e do equívoco, muitas vezes inexistentes ou mesmo insignificantes.
Minha intenção não é agradar ao mundo. O que me prende é uma coisa muito mais particular e subjetiva, que não consigo definir com clareza. É como se houvesse alguém dentro de mim, me vigiando e avaliando, e que eu temesse frustrar. Meu vocabulário parece reduzido demais ao tentar explicar essa minha mania de não agir, de adiar minha vida e ficar pensando nas mil e uma possibilidades que estão contidas em cada escolha e atitude.
Pareço uma criança no primeiro dia de aula, que se agarra à mãe por medo daquela nova realidade, do desconhecido que lhe parece assustador. É isso, eu tenho medo do desconhecido. Mas se eu nunca abdicar disso, se eu nunca me expor ao misterioso e incógnito, serei sempre a mesma criança imatura e covarde.
Bah! Chega de usar este blog como divã de psicanalista. Só estava precisando organizar minhas idéias fora da minha cabeça. Parece que assim eu consigo vê-las de uma maneira mais transparente e compreensível, o que supostamente facilitaria a minha tentativa de "interpretação em primeira pessoa". :D


Daqui 2 dias sou oficialmente gente grande. Bela bosta! Vou continuar a fazer as mesmas coisas, só que legalmente. (Y)
Quero telefonemas, torpedos, scraps, depoimentos, comentários, mensagens telepáticas, seja lá o que for. Não esqueçam de me dar parabéns, porque eu sou rancorosa! u.u
Hahaha

o/

domingo, 13 de abril de 2008

Um pouco de ficção.

O sol esquentava a cama e o seu rosto, mas a preguiça era maior e por isso ela continuava deitada. Empurrou o lençol para mais longe e observou a claridade que batia em suas pernas. Sentiu vontade de sorrir, sem motivo aparente. Olhou o relógio: já era hora de levantar, afinal um dia longo e atarefado a esperava ansiosamente.
Fez tudo como de costume, mas lhe parecia que cada aspecto do seu dia-a-dia - por mais simples que fosse - mostrava-se mais colorido, intenso e prazeroso. Foi para a rua, pegar aquele caminho tão rotineiro e sem graça. Surpreendeu-se, porém, com uma cidade que mostrava-se mais bonita. Até o ônibus cheio lhe pareceu menos penoso.
E desse modo as horas foram passando. A noite chegou e ela despediu-se de suas obrigações. Voltou para casa, tomou um banho e então sentou no sofá, com uma caneca de leite gelado na mão. Olhou para o lado e lá estava o telefone. Apertou o botão da secretária eletrônica, recostou-se no sofá e fechou os olhos, enquanto esperava a voz mecânica terminar sua fala programada. Nesse momento, enfim, a voz dele ecoou pela sala. Suas palavras tão bobas e comuns ganharam asas e começaram a dançar por todo o aposento.
O som de bip avisou que chegara o fim da mensagem. Ela abriu os olhos e deu de cara com seu reflexo na mesinha de centro. Tinha ares de criança e um sorriso inconsciente estampados no rosto. Colocou a caneca sobre o móvel, apagou a luz e deitou no sofá. Logo adormeceu.

De repente, acordou. Olhou para os lados e estava no quarto de hospital, de volta ao seu verdadeiro mundo. Fora tudo um sonho, lembranças de um passado recente que ela queria de volta.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Aquilo que restou do que se foi

Era um sábado comum, mas terminou com a visão brutal da morte. Um instante, um momento insignificante na História - e a renúncia de uma vida ainda jovem, num impulso que eu diria ser de muita coragem.
Ainda relembro inconscientemente aqueles segundos perturbadores e sinto aquele cheiro repugnante nas horas mais impróprias. Sentidos que surgem durante o dia, durante o sono... A todo instante, trazendo recordações indesejáveis.
Não sei por quais motivos aquele rapaz sem rosto e sem identidade decidiu fugir. Não tenho intenções de julgá-lo, de criticá-lo ou de me colocar em seu lugar. O livre-arbítrio nos foi dado para usarmos da maneira que melhor nos conviesse. E a única coisa que posso afirmar é que naquele instante a fuga era a melhor saída que ele enxergava.
Foi uma experiência atormentadora que ficará incrustada por bastante tempo em mim. Ou quem sabe permanecerá sempre aqui, surgindo em momentos aleatórios da minha vida. O fato inegável é que eu mudei de certa maneira o meu jeito de olhar o mundo, pelo menos por enquanto. Quero viver, no sentido mais literal que a palavra possa ter.

Mas resta ainda uma pergunta: quão fina é a linha que separa a nossa sanidade mental do desespero enlouquecedor?

sábado, 16 de fevereiro de 2008

"Prestuplenie I Nakazanie"


Sabe quando vc lê a última página de um livro e sente vontade de voltar 'pra' primeira e recomeçá-lo? Crime e Castigo fez isso comigo.

No começo, empaquei um pouco. Perdia o foco. Não por desinteresse ou chatice da obra, mas porque estava ansiosa demais com outras coisas que me roubavam a atenção. Depois que essa "fase" passou, retomei a leitura - e com todo gás. Estar de férias ajudou bastante, pois me deu a possibilidade de devorar aquela história com fervor. E esses termos que eu usei na última frase não são exagero. :]
Em algumas partes, me senti mal de verdade enquanto lia. A situação angustiante do personagem principal(Rodion Românovitch Raskólhnikov) me atingiu em inúmeros momentos, a ponto de me causar aflição e de fazer eu me sentir acuada e enclausurada. Mas não sei se isso é um efeito natural pra quem lê ou se só aconteceu comigo, que sou meio suscetível em relação a essas coisas.
O fato é que Dostoiévski me mostrou como a culpa e/ou o arrependimento são capazes de punir o ser humano, muito mais do que qualquer outra forma de castigo imposto pelas leis. São extremamente comuns as histórias de assassinos cruéis e impiedosos que, mesmo após serem presos e condenados, não mostram o mínimo arrependimento e até se vangloriam de seus atos. Em contrapartida, muitos se entregam à polícia por não suportarem o peso da culpa que os atormenta.
Por que esses sentimentos surgem em alguns e em outros não? Podem até existir explicações religiosas, místicas ou psicológicas pra isso, mas é difícil entender como o ser humano age de forma tão diferente sob o impacto de uma mesma situação.
Não seria possível, num futuro distante, usar essa "auto-punição" para castigar um indivíduo, ao invés de utilizar as leis, que em muitos casos não provocam efeito moral algum no condenado? Sim, uma aplicação real dos métodos - duvidosos! - retratados num dos grandes filmes de Stanley Kubrick: Laranja Mecânica.
Concomitantemente, até que ponto um homem tem o direito de sentenciar e punir outro através de sua própria consciência? Qual o direito de cada um de nós de interferirmos na mente e na conduta dos outros, mesmo que esses sejam assassinos cruéis?
É, muitas dúvidas... Mas uma certeza: Fiódor era foda! ;D


Ah! O título do post é o nome do livro na versão original.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Não, o blog não morreu. Simplesmente eu não tinha o que escrever e também estava com preguiça. Não que isso tenha passado, mas eu precisava postar alguma coisa... :]
Depois de alguns "fracassozinhos" no vestibular, comecei o técnico em design gráfico. Ainda não tive aula de verdade, mas estou gostando muito.


Ando com muitas dúvidas. Uma hora eu quero e na outra não.
Por que eu tinha que ser indecisa? Taurino é foda! ¬¬

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Utopia, será?

Não gosto de qualquer filme. Sou chata mesmo, nem ligo. Histórias vazias, besteiróis americanos de comédia chula e filmes que de grandiosos só têm os gastos não me agradam. Agora, se um filme me fizer pensar em alguma coisa por horas, pronto: tá na lista dos "meus melhores". :]
Assisti Machuca hoje. Bom, muito bom. Um relato sobre o governo Allende, seguido da mais sangrenta das ditaduras: a de Pinochet. Tudo contado através da história de duas crianças de mundos extremamente distintos. Enfim, não sou crítica profissional. Se querem uma sinopse decente, melhor procurar quem entenda de verdade de cinema. Rs
O que importa - e o que me motivou a postar - é que ele, o filme, me fez pensar como o ser humano ainda é incapaz de promover a igualdade. Ela nunca saiu dos inflamados e engajados discursos pelo simples fato de que somos(sim, eu também) egoístas demais para levá-la integralmente e definitivamente a diante.
Na Revolução Francesa, esse sonho esvaiu-se com a ambição burguesa. Na Russa, com a sede pelo poder. Na Cubana, com o despotismo. E tão cedo não veremos uma sociedade justa e solidária.
O homem ainda não atingiu esse "estágio de evolução". Possuímos tecnologia, progresso e modernidade, mas não temos a capacidade de lutarmos e nos sacrificarmos apenas pelo bem comum.
Mas isso é apenas a minha humilde opinião. ;]

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Dias quentes, mas muito frios.
Dias de horas difíceis, de palavras ríspidas, de noites longas, de paciência rompida, de angústias latentes.

Mas a gente espera os que ainda vão nascer, pra ver se melhora.