quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Não existe, mas incomoda

Um peso que provoca sensação de vazio. Uma dúvida permeia, o instante não volta, a impotência domina... Tantas razões, mas nenhum porquê.
Alguma coisa reprimida, calada, infeliz que cresce por brotamento ou bipartição. Não vai explodir, não vai se romper. Vai corroer.
E depois fugir. Porque as coisas que começam sem sentido sempre acabam sem explicação.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

As palavras para quem sabe realmente usá-las

"(...)Como todo homem, sou meu próprio pior inimigo. Ao contrário da maioria dos homens, porém, sei também que sou meu próprio salvador. Sei que liberdade significa responsabilidade. Sei igualmente com que facilidade o desejo pode ser convertido em ação. Ainda quando fecho os olhos, devo tomar cuidado com meus sonhos e o seu tema, pois agora apenas o mais fino véu separa o sonho da realidade."

Tirado de O Mundo do Sexo, Henry Miller.

sábado, 13 de setembro de 2008

Sonhos ou devaneios?

Ele sempre calado, conformado, sem se queixar, naquela vida simples de poucas ambições. Pouquíssimas. Mas um dia lhe veio uma vontade de sair por aí, conhecer gente nova, andar sem destino. Até porque a liberdade sempre o encantou.
E saiu do aconchego e da segurança de seu lar. Aproveitou a melhor oportunidade para armar-se de coragem e ultrapassar os portões da vigilância alheia. Primeira coisa que fez? Respirar o ar puro do mundo sem grades, portões e muros. A rua estava ali, com todo seu movimento, sua intensidade, sua inconstância e sua impessoalidade. Ele sabia que haviam regras, leis, normas de convivência mesmo ali na calçada ou no asfalto desgastado. Mas pouco importava.
Ele poderia caminhar por horas sem dar conta de seu rumo a ninguém. Comeria restos ou pratos requintados, dormiria onde quisesse na hora que melhor lhe apetecesse, faria amigos bons e ruins, confrontaria os inimigos que surgissem...
Ah, tantos planos e ele ali ainda parado! Inspirou profundamente e correu. Para a felicidade.
E ela veio iluminada pelo farol do ônibus, que lhe deu asas por instantes para jogá-lo num precipício de idéias e sonhos, onde ele enxergava cores, cheiros, rostos, desejos e todos os seus planos ali misturados de modo confuso e mágico. Caiu enfim com brusquidão no chão cinzento de listras amarelas e ainda pôde prever seu futuro tão maravilhoso.
Fechou os olhos, então. Mais um cachorro morria nas ruas de São Paulo.




[Tributo ao finado King! ^^]

domingo, 7 de setembro de 2008

Da amizade que já é, mas que virá.

As duas se aproximam como imãs, com palavras recatadas que se acumulam na boca - tão prontas para o mundo e para o ouvido alheio ali ao lado. As mesmas músicas tocam em seus respectivos fones de ouvido, os mesmos livros ocupam as mesinhas de seus quartos, os mesmos lugares e eventos recebem suas presenças... E ainda, no entanto, há um muro entre elas, como o de Berlim.
Se encontram, trocam sorrisos. Andam na rua juntas por um acaso da vida, conversam de coisas aleatórias, com idéias e opiniões que se encontram numa grande intersecção de pensamentos. E a afinidade pulsa, reclama liberdade e intercâmbio. Mas elas continuam tensas, recolhidas mentalmente num duelo de entrega e repulsa.
Intercalam entre si momentos de ansiedade por essa aproximação. Outras vezes de receio ou de antipatia. Um misto de sentimentos que só amigos têm.
É, amigas. Porque elas são isso, nada mais que isso. Só lhes falta a oportunidade de deixar fluir plenamente a afinidade que faz sombra entre elas quando caminham lado a lado, num silêncio confidente.