Na mesinha do lado da cama repousa Clarissa, um livro alaranjado de pequena espessura feito, porém, de páginas delicadamente escritas para encantar o leitor. Da narrativa simples surge uma vontade imensa de resgastar a personagem pra fora do papel e lhe contar os mistérios da vida que tanto lhe causam curiosidade.
Por quê? Ora, basta lembrar de si com os mesmos anos. Menos ingênua - claro, mas com a mesma mania de absorver do mundo todos os segredos, as confissões, as explicações, as razões, os desejos... Sentir, guardar dentro de si e criar um quebra-cabeça da vida.
Tudo é tão novo, espetacular e instigante! E a cada descoberta incipiente um sentimento de superioridade submissa, afinal ainda há de vir outra revelação. É como mergulhar na onda forte e esperar a próxima, confiante por ter ultrapassado a primeira.
O engraçado é que dizem: "Criança é que é feliz. Tudo é festa, veja só!". Mas o mundo não pára, o novo não deixa de surgir, os mistérios tornam a se multiplicar.
Não se aborreça, Clarissa. Haverá sempre o que descobrir. Até porque o inexplicável de um dia para o outro se transforma na mais compreensível das coisas, e é assim desde sempre.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Pingos.
Água.
Para matar a sede. Um pouco no rosto, pela manhã, para acordar de vez. Alguns litros para lavar a alma, naqueles dias tensos. Com sal dizem que espanta coisa ruim. Com açúcar já acalma. Tem da benta, que só funciona com quem acredita. Gelada em dias particularmente tropicais; borbulhando e pronta para um chá ou café nos mais frios. No fogo para cozinhar, evaporar e deixar tudo pronto para o estômago faminto. A pia, a louça, o carro, a casa: higiene e cara nova. Uma ducha quente depois de um dia longo. Banho de mangueira quando se é criança - ou não. No regador, para alegria do jardim. Salgada e com ondas, uma delícia. Com cloro para quem gosta de esquecer da vida em algumas chegadas. Algumas carregadas pela correnteza, cheias de vida.
Mas a melhor? Aquela que condensa no céu e cai inesperadamente, arrancando reclamações de uns e risos de outros.
É, eu adoro banho de chuva.
Para matar a sede. Um pouco no rosto, pela manhã, para acordar de vez. Alguns litros para lavar a alma, naqueles dias tensos. Com sal dizem que espanta coisa ruim. Com açúcar já acalma. Tem da benta, que só funciona com quem acredita. Gelada em dias particularmente tropicais; borbulhando e pronta para um chá ou café nos mais frios. No fogo para cozinhar, evaporar e deixar tudo pronto para o estômago faminto. A pia, a louça, o carro, a casa: higiene e cara nova. Uma ducha quente depois de um dia longo. Banho de mangueira quando se é criança - ou não. No regador, para alegria do jardim. Salgada e com ondas, uma delícia. Com cloro para quem gosta de esquecer da vida em algumas chegadas. Algumas carregadas pela correnteza, cheias de vida.
Mas a melhor? Aquela que condensa no céu e cai inesperadamente, arrancando reclamações de uns e risos de outros.
É, eu adoro banho de chuva.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Ficar são...
Ele conversa no quarto ao lado, derramando conselhos e lágrimas alheias. Sentada no sofá, intercalando sua atenção entre a tv e o outro cômodo, ela absorve cada palavra dita e subentendida.
Ela já não se pergunta por que isso está acontecendo ou por qual motivo, entre tanta gente no mundo, ele foi um escolhido. A questão da vez é como, nessa situação, ainda há sabedoria, um mínimo de paz e coisas bonitas a serem ditas.
"De onde vem a calma daquele cara?" um dia perguntou Camelão e seus companheiros. E hoje eu divido essa dúvida. Me coloco em seu lugar, tentando - em vão - imaginar como reagiria ao desmoronar da vida. Da minha vida, no sentido mais literal possível. O resultado desse questionamento me mostra o quanto ele é forte, digno, especial. E então me deparo com um misto de orgulho e dor. Não sei se preferia a covardia que o deixaria pra sempre comigo ou se é melhor provar desta idolatria penosa. Não sei.
E talvez você, que nem (gosta) conhece de Los Hermanos, cante por dentro: "O mal vai ter fim/E no final, assim calado/Eu sei que vou ser coroado rei de mim."
Ela já não se pergunta por que isso está acontecendo ou por qual motivo, entre tanta gente no mundo, ele foi um escolhido. A questão da vez é como, nessa situação, ainda há sabedoria, um mínimo de paz e coisas bonitas a serem ditas.
"De onde vem a calma daquele cara?" um dia perguntou Camelão e seus companheiros. E hoje eu divido essa dúvida. Me coloco em seu lugar, tentando - em vão - imaginar como reagiria ao desmoronar da vida. Da minha vida, no sentido mais literal possível. O resultado desse questionamento me mostra o quanto ele é forte, digno, especial. E então me deparo com um misto de orgulho e dor. Não sei se preferia a covardia que o deixaria pra sempre comigo ou se é melhor provar desta idolatria penosa. Não sei.
E talvez você, que nem (gosta) conhece de Los Hermanos, cante por dentro: "O mal vai ter fim/E no final, assim calado/Eu sei que vou ser coroado rei de mim."
Assinar:
Postagens (Atom)