quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Uma pequena caixa

Existe uma caixinha, pequena e delicada, que passa a maior parte do tempo guardada. Praticamente escondida, a salvo da umidade, do calor e das pessoas, dentro de um cofre de combinação absurda e inimaginável.
Então, aparece alguém. Alguém diferente dos outros, que te deixa segura o suficiente para retirar a caixinha de seu lugar. Mesmo que aos poucos, por receio ou dúvida. Desse modo, você coloca o pacote no meio das coisas desse alguém, sem comentar. Porque não precisa - o mais importante é a mudança, notada por ambos.
O problema é que, em algum momento, essa pessoa talvez não queira mais sua caixinha ou só não goste mais de vê-la entre seus objetos, porque não combinam. E você voltará para casa com o embrulho na mão, todo amassado, destruído.
A partir daí, será preciso reformar a caixinha, deixá-la bonita e delicada novamente. É um pouco demorado e trabalhoso, mas possível.
Quando ela estiver pronta de novo, guarde e espere por outro alguém que a aceite. Repita o processo o quanto for necessário. Ou o quanto você aguentar e ainda acreditar na entrega dessa caixinha.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Uma ilha

Uma ilha perdida no mundo, sem grandes atrativos visuais e turísticos; por isso mesmo, abandonada. E o abandono não fez dali um paraíso. Pelo contrário, transformou todo o lugar numa completa falta de vida.
Os dias eram sempre cinzentos, nublados, de uma garoa fina e persistente. Não fazia frio nem calor - era um clima indefinido, como se até para com isso a ilha demonstrasse descaso.
Por algum motivo desconhecido, não cresciam flores nem árvores, apenas um punhado de mato disforme aqui e ali, sem muita força para se espalhar. Os animais, raros, viviam escondidos, seja por sua feiúra ou por sua aversão ao que, infelizmente, era seu habitat.
Exceto pelo barulho do vento teimoso que ia e vinha em todas as direções, tudo era silencioso e inexpressivo por ali. Um lugar ao acaso, sem propósito, desanimador e um pouco cruel em sua indiferença para com a vida.
Nesse ambiente hostil, estava ela sentada num ponto qualquer da ilha, como todos ali o eram. Encolhida, como se quisesse criar um casulo protetor com seu próprio corpo. Porque era tudo o que tinha ali, depois e mais além. E, apesar da posição desconfortável, ela não sentia dor. Simplesmente não sentia nada.
Por vezes, pensou que o nada fosse o que chamam de paz. Mas notou que o nada era difícil, incômodo e desagradável. Jamais poderia, entretanto, descrever o nada. O nada era a ilha, ela, tudo o que conhecia e sentia. Ou simplesmente era a falta de todos os sentidos, coisas que já não mais a pertenciam.
Um dia, decidiu não pensar, até mesmo sobre o nada. E a ausência de tudo foi tornando-a pesada e inativa. Desde então, permanece encolhida. Quieta, ausente, rodeada pela falta de vida da ilha.

A ilha que alguns chamam de solidão.